terça-feira, 21 de abril de 2009

Flores



O amor não tem paciência, é muito jovem. Como ele era.
Já fazia três horas que ele estava lá fora. A moto estacionada sobre a calçada, bermuda de jogador de tênis, de uma geração que não era a sua. Camiseta pólo e aquele enorme buquê de flores largado sobre a grama.
Minha ansiedade aumentando a cada minuto. Por que ele não toca a campainha ou simplesmente vai embora ?
Lembro da primeira vez que falou comigo. Aparelho nos dentes, um sotaque terrível e a gagueira. Dois ou três anos tentando ser meu amigo. Apesar de toda minha indiferença ele insistiu. Telefonemas, cartas, cartões, caronas, flores.
Qual o adolescente normal que manda flores? Cartões? Abre portas de carro?
Eu não queria ninguém para me tratar bem. Queria emoção, dor, sofrimento e indiferença. Assuntos quentes.

Ele ficou ali mais uma hora. Eu lá dentro escondida, rezando para que ele se fosse.
Ouvi o barulho da moto. Se foi... Alívio!

Anos depois – talvez 10 anos depois – uma multidão se acotovelando na feira de design. Estou correndo até o estande da empresa e bato de frente com ele! Sem aparelho nos dentes, sem moto e sem flores. Bonito, terno bem cortado, elegantérrimo.
Oi – diz ele – quanto tempo. Como vai?O que fazes?Onde?Como?Estás ótima...
Olho e ouço minha voz que responde automática, sem meu comando mas rimada e sedutora.
É o momento de refazer tudo, reparar o erro e finalmente ter a coragem de aceitar o amor.
Ele me abraça.
Que bom te ver, estás muito bem, boa sorte.
Fico parada, paralisada.
O amor da minha vida segue e abraça uma loira belíssima. Saem sorrindo.

De noite em casa conto as motos que passam lá fora.
Vai parar, vai parar...
Lembro que está na hora de trocar as flores do vaso da sala e pego no sono.
Ele ainda não tocou a campainha.