segunda-feira, 18 de maio de 2009

Outono em Porto Alegre




Desde que posso me lembrar eu amo o outono em Porto Alegre.

Tem uma dorzinha funda no peito que me aperta quando o céu fica azul, nesse tom de abril que se estende até maio, quando a chuva se atrasa.

Tem sido assim, todos os anos.

Abril chega, o azul escurece, a chuva para e a cidade se agita sobre uma calma que permeia tudo.

Os plátanos importados amarelam e flores improváveis florescem.

Os parques enchem, e a expectativa de um inverno escuro e solitário leva todos para a rua, freneticamente reunidos antes de hibernar.

Lembro da casa de meus avós quando o sol e o som do futebol no rádio preenchiam as tardes de outono na beira do lago, chamado Rio Guaíba. Os adultos dormiam ao sol e eu, ansiosa e agitada, esperava a hora de poder pegar minha bicicleta e voar pelas ruas de areia, banhadas pela brisa e pela luz de abril. As últimas tardes, antes das chuvas e do frio que só iria terminar na época de meu próximo aniversário, já na primavera, onde eu seria irremediavelmente mais velha.

Naquelas tardes eu já desconfiava que cada minuto vivido fosse um milagre que não poderia recuperar. E essa urgência me fazia correr entre as árvores do pequeno labirinto da praça de Belém Novo, em frente ao colégio onde jamais estudei, certa de que era agora ou nunca que aquela brincadeira poderia ser feita.

De lá para cá continuo correndo nos dias de outono com medo do frio que se aproxima, mesmo que hoje em dia ele raramente chegue.

Aquela dorzinha ainda me aperta quando vejo o contraste do verde das copas contra o azul mais escuro no céu, e as folhas secas no chão do parque da Redenção.
Acho que realmente o que me dói são essas folhas que insistem em cair todos os anos, como os dias que passam e não voltam, as pessoas que vão embora sem parar e o interminável mudar das estações que, dentro de mim, revolucionaram tudo, tantas vezes nesses anos.


E penso que aquele sonho do amor incondicional é como uma possibilidade que só nasce quando as folhas caem, mas então é quase inverno, e o que pode acontecer com um botão quando chega o inverno ?

Hoje amanheceu 6 graus e a chuva cai sem parar.
O azul acinzentou.
Logo faço 42..

terça-feira, 5 de maio de 2009

Coisas que ninguém sabe!

Adoro rir dos problemas alheios. O cara ali, se levando super a sério e eu ironizando ou ignorando. Não tenho a menor paciência para pessoas complicadas, geralmente são óbvias.
Só que elas não sabem dessa minha incapacidade, disfarço com perfeição.

Confesso que isso já me trouxe muita incomodação. No início ouvia os dramas com atenção zelosa, bocejava e depois arrematava com um "não é tão grave assim". Nem sempre surtia efeito. Muitas vezes o cara voltava à carga com histórias ainda mais melodramáticas, complexas e melancólicas ainda.
Muitas vezes abracei amigos, sequei suas lágrimas, coloquei pra dormir . Até pijama já vesti nas vítimas.

Tinha uma amiga com sérios problemas: "ninguém quer comer" dizia ela. Quanto sofrimento. Uma gatinha de 30 anos, recém separada, que costumava transar no corredor do prédio com um galã moreno de metro e tanto, e que a cada dia que não se sentia gata o suficiente atacava com um "ninguém me come"
Oh deus, quanta dor dizia eu. E vá fazer um chá, botar pra dormir e jogar tarô pra pobrezinha.

Mas a verdade que ninguém sabe é: adoro rir de todos eles. E me torno a cada dia mais leve nessa graça. O bom é que eles não sabem. Se pensam compreendidos e aprovados.

Só estou sendo simpática com os inocentes.
Pela minha própria saúde.

Amém!!