sábado, 4 de julho de 2009

Mas que vergonha!


A vergonha diminui depois dos 40. Na verdade a vergonha diminui ano a ano, desde que se nasce. Ou desde que se descobre que as coisas que fogem ao comum são coisas erradas, e que fazer essas coisas deve ser motivo de vergonha.

Quantas vezes sofri por falar palavras erradas, trocar o nome das tias de minha mãe ou peidar na frente de amigos.

Mas nada supera a maior de todas as vergonhas . Nove anos de idade, há exatos 32 anos atrás fui naquela que seria minha última festa junina.

Era domingo e o convite dizia claramente - "somente vestido de caipira".
Ok. Minha mãe, contrariando sua atitude costumeira, passou a semana providenciando minha fantasia. Chapéu de palha, saia xadrez, conga vermelha e meia calça remendada. No cabelo trancinhas. Nas bochechas um "rouge" coberto com pintinhas pretas. Era Xiquinha caipira em pessoa.

Lá fui eu. Desci do carro do meu pai e bati na porta da casa de minha ex-colega de jardim de infância. Fernanda, vestida como uma criança normal abriu a porta e começou a rir como nunca.

- Foi ontem - ela disse, rindo sem parar.

Não consegui me mexer. esperei que meus pais corressem para me tirar dali, mas não. Me abanaram e arrancaram o carro, sem saber do desastre.

Passei a tarde na casa de Fernanda, vestida de caipira esperando a hora de ir embora. Brinquei, corri, comi, até a hora de ir.

Descobri , em casa, que meus pais trocaram o dia da festa por distração e me deixaram com a vergonha.

Passei muitos anos odiando festas juninas, sem lembrar por que.

E também fui esquecendo de ter vergonha, e comprei roupas xadrez. casacos, calças, botas, meias, blusas e calcinhas.

Meus cabelos cortei de formas estranhas e enchi de muitas cores. Adoro chegar nas festas erradas.

Espero chegar aos 50 com rouge e sardas, cada vez mais sem vergonha.


Vou convidar a Fernanda!!

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